O Tribunal da Nova Era

Prefácio: No tribunal da nova era, o Evangelho é chamado ao banco dos réus. Acusações não faltam: opressivo, radical, fundamentalista. Em um mundo que clama por inclusão, o Evangelho é tachado de exclusivista, inflexível e incompatível com os valores modernos de diversidade. Afinal, em tempos de liberdade individual e relativismo moral, como defender um caminho que se declara único, verdadeiro e absolutamente certo?

O promotor, munido de filosofias pluralistas, declara que o Evangelho não oferece o conforto que a nova espiritualidade busca, mas um caminho árduo, exigente e, acima de tudo, pessoal. Onde está a liberdade de criar a própria verdade? Onde está o direito de cada um definir seu próprio caminho? “Esse Evangelho”, ele afirma, “não se adapta aos valores corporativos e sociais que exaltam a autorrealização, o hedonismo e o humanismo. Pelo contrário, ele confronta e desafia, propondo algo radicalmente oposto: negação de si mesmo, arrependimento e submissão a uma verdade externa e imutável.”

A defesa, entretanto, não apela à lógica do consenso popular. Em vez disso, apresenta a essência da mensagem cristã: o Evangelho não é um convite à aceitação de todos os comportamentos, mas uma convocação à transformação de vida. Sim, ele exclui certas práticas e ideologias. Sim, ele é radical em seu chamado para uma mudança interior profunda, exigindo a morte do ego e a renúncia dos ídolos modernos. Em um mundo que abraça o “eu” como a medida de todas as coisas, o Evangelho oferece uma verdade desconfortável: o verdadeiro caminho é estreito, solitário e exige a cruz.

A moral da história é clara: o Evangelho não é um produto moldável às demandas da sociedade. Ele não está aqui para ser popular ou agradável. Ele confronta, desafia e expõe o coração humano em sua essência. E, no fim, revela que o caminho da vida não é coletivo, diluído em consensos sociais, mas individual, onde cada um deve carregar sua própria cruz e seguir a Cristo. É uma jornada solitária para uma verdade eterna, onde poucos ousam trilhar, mas onde se encontra a verdadeira paz e reconciliação com Deus.

O veredicto? Para o mundo, o Evangelho é culpado. Para quem o abraça, é a verdade que liberta.

“Declaro aberta a sessão”

Opressor, radical, fundamentalista e causador de conflitos. Na sociedade pluralista, onde o inclusivismo é exaltado como o valor supremo, o Evangelho é visto como um inimigo que desafia o consenso social. Em uma era em que as pessoas são encorajadas a “encontrar sua própria verdade”, o Evangelho, com sua reivindicação de verdade absoluta, é considerado ofensivo e, para muitos, intolerável.

As acusações são contundentes: o Evangelho exclui, discrimina e divide. Ele ousa dizer que há um único caminho para Deus, enquanto o mundo clama pela multiplicidade de crenças, experiências e estilos de vida. Como uma mensagem tão exclusiva pode ter lugar em um mundo que celebra todas as formas de expressão e identidade? O Evangelho, por essa perspectiva, é um retrocesso, um resquício de uma era de opressão e autoritarismo.

Acusação 1: Opressão e Radicação do Evangelho

O primeiro ataque contra o Evangelho é sua suposta natureza opressiva e radical. Ele é acusado de submeter indivíduos a um padrão moral absoluto, de impor limitações sobre desejos e impulsos humanos. Na cultura atual, a autonomia pessoal e o direito à autodeterminação são considerados direitos fundamentais. A ideia de submeter-se a uma autoridade externa e imutável – seja Deus, a Bíblia ou a tradição cristã – soa não apenas antiquada, mas também tirânica.

O Evangelho, ao exigir arrependimento e transformação, é visto como uma ameaça à liberdade de se viver conforme a própria vontade. A mensagem cristã de negar a si mesmo e carregar a cruz é percebida como um insulto à ideologia da autoexpressão, onde o desejo pessoal é elevado ao status de divindade. Para a sociedade moderna, o Evangelho não liberta; ele aprisiona ao insistir em padrões que desafiam os instintos e preferências mais profundos do coração humano.

Acusação 2: Fundamentalismo e Exclusivismo

Outra acusação séria é o fundamentalismo do Evangelho. Ele afirma que há uma verdade objetiva, clara e não negociável. Essa postura é diretamente contrária à cosmovisão relativista, que sustenta que a verdade é subjetiva e que cada pessoa tem o direito de definir sua própria realidade. A sociedade moderna valoriza a fluidez, a capacidade de reinterpretar e redescobrir novas verdades. Em contraste, o Evangelho oferece uma verdade fixa e universal que, segundo seus críticos, sufoca a criatividade e a evolução do pensamento humano.

O exclusivismo cristão também está sob fogo cerrado. Jesus afirmou ser o único caminho, verdade e vida (João 14:6), uma declaração que parece um atentado à inclusão. Como um caminho pode ser o único em um mundo com tantas crenças e tradições espirituais ricas e diversificadas? A postura exclusiva do Evangelho, que insiste em um único meio de salvação, soa como uma afronta à cultura globalizada e interconectada que valoriza o diálogo e a cooperação entre diferentes religiões.

Acusação 3: Criador de Conflitos e Não Inclusivo

O Evangelho é também acusado de ser um catalisador de conflitos. Sua mensagem, que separa a luz das trevas, os crentes dos incrédulos, é percebida como divisiva. Em uma época que valoriza o consenso e a harmonia social, a ideia de que a verdade deve ser defendida, mesmo à custa de rupturas e conflitos, é vista como perigosa. A pregação do Evangelho frequentemente gera resistência e oposição, pois ele desafia as normas culturais, questiona os ídolos modernos e confronta os pecados que a sociedade prefere celebrar.

Além disso, a acusação de não inclusão atinge o cerne do debate. O Evangelho não apenas afirma uma verdade exclusiva, mas também convida a uma transformação que implica a rejeição de comportamentos e práticas que são amplamente aceitos na cultura contemporânea. Ele não se ajusta ao movimento de diversidade e inclusão que prega a aceitação irrestrita de todos os estilos de vida, independentemente de qualquer julgamento moral. Para muitos, isso faz do Evangelho uma mensagem perigosa e intolerante, que exclui aqueles que não estão dispostos a se conformar aos seus padrões.

A Defesa: O Evangelho e a Verdade Transformadora

A defesa do Evangelho, contudo, não se baseia na popularidade ou na adaptação às normas culturais, mas na sua própria essência: a verdade que liberta. O Evangelho não pretende ser um sistema de crenças que se ajusta às demandas sociais ou aos desejos humanos. Ele é, por definição, uma mensagem que confronta e desestabiliza, que expõe o pecado e a necessidade de redenção. Sua radicalidade não reside em uma opressão, mas em um chamado à verdadeira liberdade – não a liberdade para fazer o que se deseja, mas a liberdade para fazer o que é certo.

O Evangelho não se conforma às expectativas humanas porque parte do pressuposto de que o coração humano é enganoso e precisa ser transformado. Ao contrário das filosofias da nova era e da espiritualidade contemporânea, que exaltam o potencial humano e a autorrealização, o Evangelho proclama a falência moral da humanidade e a necessidade de uma intervenção divina. Ele não oferece caminhos alternativos, mas um único e estreito caminho, onde a salvação não é alcançada por mérito próprio, mas pela graça.

A Verdade que Confronta

A mensagem do Evangelho é desconfortável porque ela não apenas contradiz, mas também desafia a essência dos valores modernos. Enquanto o mundo celebra o pluralismo e a inclusão irrestrita, o Evangelho proclama uma verdade que discrimina, sim, entre o que é santo e o que é profano, entre o que é justo e o que é perverso. Ele não faz concessões ao pecado, mas exige uma conversão total e uma vida de obediência. Para o mundo, isso é radicalismo; para os que creem, é o caminho da vida.

O Evangelho não busca se alinhar ao espírito da época, mas se posiciona como uma rocha imutável em meio à tempestade do relativismo. Sua exclusividade não é uma limitação, mas uma expressão da verdade absoluta de Deus, que oferece um caminho único para a reconciliação com Ele. E, por isso, ele inevitavelmente se choca com as ideologias dominantes, expondo a hipocrisia e a fragilidade dos sistemas humanos que tentam construir a paz e a justiça sem a base da verdade divina.

Qual o Veredicto?

O veredicto deste julgamento é inevitável. Aos olhos do mundo, o Evangelho é culpado de ser opressivo, radical e divisivo. Ele não se encaixa nos padrões culturais modernos e desafia diretamente os valores que são amplamente aceitos. No entanto, a verdade que ele proclama permanece inabalável: o caminho para a vida é estreito e poucos o encontram (Mateus 7:14). O chamado do Evangelho não é para uma jornada confortável ou popular, mas para uma peregrinação solitária e difícil, onde cada um deve tomar sua cruz e seguir a Cristo.

No final, o Evangelho revela que a verdadeira transformação não é alcançada pela adaptação ao mundo, mas pela renovação da mente e do coração segundo a vontade de Deus (Romanos 12:2). Ele confronta a todos nós, expondo nossa rebeldia e nossa necessidade de redenção. O caminho é estreito porque exige a negação de si mesmo, algo que vai contra a corrente de uma sociedade obcecada pela autoindulgência.

Portanto, enquanto o pseudoevangelho corporativo e social prega um caminho amplo, que acomoda todas as crenças e comportamentos, o verdadeiro Evangelho permanece como uma voz solitária, chamando a uma entrega completa e a um compromisso radical. A ironia final é que, enquanto o mundo rejeita o Evangelho por sua “intolerância”, é exatamente essa verdade que oferece a liberdade verdadeira, uma liberdade que não se baseia no direito de fazer o que se deseja, mas no poder de viver como Deus deseja.

Neste tribunal, a escolha final não é sobre o veredicto do Evangelho, mas sobre a resposta individual a ele. O mundo pode condená-lo, mas para aqueles que o abraçam, ele é o poder de Deus para a salvação. O caminho é realmente estreito, e ele exige que cada um, individualmente, escolha a verdade acima do conforto, a cruz acima da coroa, e a vida eterna acima das ilusões temporais desta era.

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