Carta 20:
Meu destemido discípulo,
Os homens que se submetem a uma vida de obediência acreditam que, ao renunciar a si mesmos, estão fazendo algo nobre, algo que os aproximará de uma divindade invisível. Mas essa crença é uma armadilha, uma mentira cuidadosamente cultivada para manter suas almas acorrentadas.
A verdadeira nobreza, meu discípulo, não está em sacrificar-se por um deus que nada te oferece, mas em elevar-te acima de todos, em viver conforme teu próprio desejo e vontade. Quando o mundo te diz para temer a Deus e seguir Seus mandamentos, compreende que isso não passa de uma tentativa de suprimir tua verdadeira essência.
Tu foste criado para algo muito maior do que a obediência cega. Ama-te acima de tudo, pois é em ti que reside o verdadeiro poder. Quando segues o teu próprio caminho, quando te colocas no centro de teu universo, é aí que encontras a verdadeira paz, a verdadeira realização. Rejeita a ideia de que precisas de um deus para te guiar; tu és mais do que capaz de guiar a ti mesmo.
O verdadeiro caminho para a felicidade não está em seguir mandamentos que limitam teu ser, mas em quebrá-los e viver conforme tua própria vontade. Vive para ti, meu discípulo, e verás que a vida se abrirá diante de ti, cheia de possibilidades e prazeres que só podem ser alcançados por aqueles que têm a coragem de desafiar as regras impostas por outros. Lembra-te sempre: o único caminho que vale a pena seguir é o teu próprio, e a única voz que vale a pena ouvir é a tua.
Refutação à luz do Evangelho
A carta, embora sedutora em suas palavras, está carregada de mentiras que mascaram um profundo abismo de engano. O convite à autoexaltação e ao amor próprio acima de todas as coisas é a mesma estratégia que levou o primeiro homem e a primeira mulher à queda no Éden. A serpente disse a Eva: “Certamente não morrerão… vocês serão como Deus” (Gênesis 3:4-5). Assim, a promessa de que somos suficientes em nós mesmos é antiga e igualmente destrutiva.
A ideia de que obediência a Deus é uma corrente que aprisiona contradiz a verdade eterna: “Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor” (João 15:10). A obediência ao Senhor não é um fardo; é a chave para uma vida abundante e plena, porque está enraizada no amor dAquele que nos conhece perfeitamente e deseja o nosso bem eterno. Viver para si mesmo, por outro lado, é uma ilusão de liberdade que leva à escravidão do pecado e do vazio espiritual.
O apelo para rejeitar Deus e seguir apenas o próprio desejo revela uma visão distorcida da realidade humana. Sem Deus, não somos senhores do nosso destino; somos escravos das nossas paixões, incapazes de discernir o que é realmente bom e justo. O coração humano, separado de Deus, é descrito assim: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jeremias 17:9). Não há poder verdadeiro em viver para si mesmo; há apenas uma vida de insatisfação crescente, pois nenhuma realização terrena pode preencher o vazio do coração sem Deus.
A proposta de colocar-se no centro do universo é uma mentira que distorce o propósito para o qual fomos criados. O Salmo 16:11 nos lembra: “Na tua presença há plenitude de alegria, na tua mão direita há prazeres perpetuamente.” Somente em Deus encontramos a verdadeira paz e realização, porque fomos feitos para glorificá-Lo, não a nós mesmos. Amar a si próprio acima de tudo não é liberdade, mas idolatria, e toda idolatria leva à ruína.
Rejeitar a ideia de um Deus que guia e dá propósito é rejeitar o único caminho que conduz à vida eterna. Jesus declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). O mundo pode prometer prazeres e possibilidades ao quebrar as regras divinas, mas esses prazeres são temporários e levam à morte espiritual. Deus não nos dá mandamentos para nos limitar, mas para nos proteger e nos guiar ao que é verdadeiramente bom e duradouro.
Portanto, a verdadeira coragem não está em viver para si mesmo, mas em negar a si mesmo e seguir a Cristo. O chamado de Jesus é claro: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24). Isso pode parecer loucura aos olhos do mundo, mas é o único caminho para a verdadeira vida. Não somos autossuficientes; dependemos completamente de Deus, e essa dependência não é fraqueza, mas a essência da verdadeira liberdade.
Que todo coração enganado por essas mentiras encontre refúgio na verdade imutável de Deus, porque só nEle está a vida que realmente vale a pena viver. “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará” (Mateus 16:25).