Cartas do Diabo a seu Discípulo

Carta 19:

Meu perspicaz aprendiz,

Quando o mundo te diz que a verdadeira virtude está em submeter-se à vontade de um deus distante, saiba que é um engano que foi habilmente cultivado ao longo dos séculos para aprisionar a humanidade. Aqueles que pregam a submissão como o caminho para a salvação são, na verdade, os próprios escravos dessa ilusão. Tu, porém, não deves seguir esse caminho de servidão.

A verdadeira virtude não está em renunciar a si mesmo, mas em abraçar tua natureza e realizar teus desejos. Quando colocas tua vontade acima de todas as coisas, quando segues apenas o que te traz prazer e satisfação, aí sim estás vivendo conforme a verdadeira liberdade. Os mandamentos que te dizem para amar a Deus com todo o teu coração, alma e força são grilhões que te impedem de alcançar teu verdadeiro potencial.

Ama-te acima de tudo, pois é em ti que reside o poder de criar o teu próprio destino. Rejeita as noções de sacrifício e obediência; vive conforme teu próprio código, e verás que o mundo se moldará à tua vontade. A verdadeira felicidade não está em seguir um caminho traçado por outros, mas em criar o teu próprio caminho, em ser o senhor de tua vida.

Não permitas que te digam que precisas renunciar a algo para alcançar a redenção; a verdadeira redenção está em viver plenamente, em seguir teus desejos sem remorso. Lembra-te sempre: tu és o único mestre do teu destino, e não há poder maior do que aquele que reside dentro de ti.

Refutação à luz do Evangelho

A Ilusão da Autossuficiência

As palavras da carta são um engodo sutil, envernizado com a promessa de liberdade, mas profundamente enraizado no mesmo erro que levou à queda do homem. Ao contrário do que é sugerido, a submissão a Deus não é escravidão, mas a essência da verdadeira liberdade. Jesus afirmou: “Se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (João 8:36). A ideia de que a obediência a Deus aprisiona é uma distorção que busca afastar o homem da fonte de toda vida e verdade.

A proposta de “amar-se acima de tudo” não passa de idolatria disfarçada de autonomia. O coração humano foi criado para adorar, e quando não adora a Deus, inevitavelmente adora algo menor: seja a si mesmo, seja o mundo. O amor-próprio desenfreado não conduz à virtude, mas à ruína, pois está escrito: “O orgulho vem antes da destruição, e o espírito altivo, antes da queda” (Provérbios 16:18). A verdadeira virtude não está em satisfazer os próprios desejos, mas em render-se à vontade de Deus, que é perfeita e boa.

O chamado de amar a Deus com todo o coração, alma e força não é uma cadeia que limita, mas o maior privilégio e propósito do ser humano. É nessa entrega que encontramos a plenitude da vida, pois fomos criados para viver em comunhão com o Criador. “Nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5:3). A obediência a Deus não suprime, mas revela o verdadeiro potencial para o qual fomos criados.

A promessa de moldar o mundo à nossa vontade é uma mentira que ignora a realidade da nossa limitação como criaturas. Não somos mestres de nosso destino; somos criaturas dependentes de um Criador soberano. Quando vivemos para nós mesmos, não encontramos redenção, mas perdição. Somente em Cristo encontramos a verdadeira redenção, não por obras ou desejos próprios, mas pela graça de Deus: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2:8).

Portanto, rejeitar o sacrifício e a obediência é rejeitar a cruz de Cristo, onde o maior ato de amor e redenção foi realizado. A verdadeira liberdade está em negar a si mesmo e tomar a cruz, como Jesus nos chama a fazer: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24). Somente ao perdermos nossa vida por amor a Ele é que encontramos a verdadeira vida.

Que todo coração enganado pela promessa da autossuficiência possa enxergar a beleza da submissão ao Deus que nos ama incondicionalmente e nos oferece a verdadeira redenção e paz eterna.

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