O Divã de Freud – Um Encontro Inusitado
Sigmund Freud está em seu consultório, preparando-se para mais uma sessão. O ambiente é carregado de um mistério denso, enquanto o famoso divã aguarda seu próximo “paciente”. Eis que a porta se abre, e entra ninguém menos que… o Diabo.
Freud: (Ajustando os óculos e anotando no bloco de notas) Muito bem, por favor, deite-se. Vamos explorar o que aflige o senhor.
Diabo: (Com um sorriso sarcástico, deita-se no divã, ajeitando a cauda com elegância.) Ah, Freud, meu caro! Eu sou afligido por uma única coisa: a tolice humana. Mas vamos lá, você acha mesmo que pode “analisar” o Príncipe das Trevas?
Freud: Bem, cada mente, até a mais… peculiar, pode ser compreendida através da análise. Vamos explorar suas angústias. Diga-me, como você lida com esse conflito interno entre seus desejos e a moralidade?
Diabo: Moralidade? Pff, deixe-me rir um pouco! Eu sou o arquiteto dos conflitos, Freud. Sou aquele que inspirou os dilemas e neuroses que você tenta categorizar com tanto zelo! Mas deixe-me facilitar o seu trabalho: o que realmente me diverte é ver como vocês, “grandes pensadores”, gastam tanto tempo formulando teorias e inventando termos enquanto ignoram o simples fato de que o problema é… irreparável.
Freud: Interessante. Continue. O que você quer dizer com “irreparável”?
Diabo: Ora, veja bem. Você e seus colegas tentam “curar” o que chamam de “transtornos mentais”, tentando redimir o ego, ajustar o superego, ou liberar o id reprimido… Tudo isso me faz gargalhar! Vocês criaram um labirinto intelectual para justificar que a raiz dos problemas está na sociedade, na criação, nas pulsões inconscientes… quando na verdade, a coisa toda é bem mais simples.
Freud: Simples? Explique-se.
Diabo: O ser humano é corrupto, Freud, e essa corrupção é minha especialidade. Eu brinco com seus egos, com seus desejos mais profundos, enquanto vocês pensam que um pouco de conversa terapêutica ou remédios químicos vão resolver tudo. E sabe qual é o melhor de tudo? Vocês fazem isso buscando sua própria glória! Ah, como adoro ver essa arrogância!
Freud: Interessante perspectiva, mas a ciência oferece métodos baseados em evidências para…
Diabo: Baseado em evidências?! Por favor! O que vocês chamam de “cura” é apenas maquiar a podridão. Vocês recitam mantras da razão enquanto afagam egos feridos, sem nunca realmente chegar à raiz do problema: o orgulho, a rebelião e o desejo incessante de ser como “deuses”. É exatamente isso que eu faço, Freud! Eu estimulo a humanidade a encontrar soluções por conta própria, a se curvar diante do orgulho e da vaidade intelectual, exatamente como você está fazendo agora!
Freud: Então você acredita que o conhecimento humano é em vão?
Diabo: Vão? Não, não. Ele é delicioso! Cada nova teoria é uma cebola, camadas e camadas que, quando descascadas, só revelam mais ilusão. Enquanto vocês se perdem nisso, eu ganho o jogo. Vocês querem cura, mas ignoram o fato de que o ego – esse mesmo que você tanto estuda – precisa ser crucificado, não analisado. Mas vocês preferem manter o paciente no divã, eternamente preso num ciclo sem fim de autodescoberta e análise interminável. No final, Freud, vocês só estão polindo o orgulho humano e chamando isso de ciência.
Freud: Sua visão é sombria e, francamente, reacionária. Nós progredimos, criamos teorias para entender e aliviar o sofrimento humano.
Diabo: Sim, vocês progrediram… na arte de enganar a si mesmos! Acham que podem se salvar através de sua própria lógica e, no processo, me fazem um grande favor. Toda a sua “cura” é como passar perfume em um cadáver em decomposição e chamar isso de renovação. Mas continue, por favor! Quanto mais vocês tentam “curar” o que é incurável pela própria glória, mais meu trabalho fica fácil.
Freud fica em silêncio, refletindo. O Diabo levanta-se do divã, ajeitando seu terno com um sorriso de escárnio.
Diabo: Obrigado pela sessão, Freud. Vou sair daqui renovado! Seu esforço em buscar respostas onde não há cura verdadeira é exatamente o que preciso para manter o show funcionando. Nos vemos por aí, nos seus livros e debates… onde a verdade continua sendo abafada pela lógica humana.
O Diabo sai, deixando Freud absorto em suas anotações, agora ciente de que algumas perguntas não têm respostas simples – pelo menos, não as que a lógica humana pode fornecer.